quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Prefeito espera decisão favorável sobre cubano que atendeu emergência

publicado em 10 de fevereiro de 2014 às 22:32

Paulo Argollo, presidente do Simers, disse que o caso não era grave, mas dias depois o paciente morreu
por Conceição Lemes
Candiota fica a cerca de 400 quilômetros de Porto Alegre (RS), população estimada em 10 mil habitantes e uma peculiaridade: possui 32 assentamentos de reforma agrária e várias comunidades quilombolas.
Até o início de janeiro, provavelmente poucos fora do Sul do Brasil tinham ouvido falar desse município gaúcho, na faixa de fronteira.
Foi quando então ganhou destaque na mídia nacional.
O médico cubano Maikel Ramirez Valle,  do Programa Mais Médicos, foi  denunciado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) por atender um paciente em estado grave no Hospital de Candiota. Pelo contrato,  os participantes só podem atuar  em unidades de atenção básica dos municípios.
Candiota tem sete médicos, apenas um reside na cidade. É justamente Maikel Ramirez Valle, o único credenciado no Programa Mais Médicos.
Tudo aconteceu em 2 de janeiro.
O médico escalado para o plantão tinha ido a Bagé acompanhar um paciente, e o substituto atrasou-se. Deveria entrar às 8h, chegou às 9h15.
Nesse período, um doente grave chegou ao hospital. Como não havia outros médicos no município naquele horário, Valle foi chamado em casa para atender o caso.
“A Secretaria de Saúde foi comunicada que não havia médico para realizar o atendimento. E, devido ao risco de morte, solicitada a autorização para que o profissional do Mais Médicos o fizesse”, conta ao Viomundo  o prefeito Luiz Carlos Folador. “Ao perceber a urgência do quadro, ele encaminhou o paciente para o pronto-socorro da Santa Casa de Bagé, com maior estrutura e referência para a nossa região.”
Em Bagé, o médico responsável pela internação percebeu que a requisição não continha o número do registro profissional e denunciou o caso ao Simers, cujo presidente é Paulo de Argollo Mendes. Ele está  há 16 anos no poder, sempre foi contra a vinda de médicos estrangeiros, embora tenha dois filhos formados em Medicina, em Cuba.
Ao Jornal Minuano, Argollo disse: “A informação que nós temos é de que não tinha nenhum médico atrasado. Outra informação que chegou até nós é de que o quadro do paciente não era tão grave”.
O caso era grave. Tanto que, depois de alguns dias internado na Santa Casa de Bagé, o paciente morreu, mostrando o encaminhamento correto do médico cubano.
Quanto à outra acusação de Argollo – a de que não havia médico atrasado –, Folador afirma: “Realmente, o plantonista estava atrasado. Está tudo relatado e comprovado na defesa que encaminhamos ao Ministério da Saúde”.
http://www.viomundo.com.br/wp-content/uploads/2014/02/DocCandiota-1-001.jpg
“Desde o primeiro momento, o presidente do Simers não estava preocupado com o fato em si, com a verdade. Só queria achar um motivo que pudesse desmoralizar o programa Mais Médicos”, diz o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS). “O Simers  e o seu presidente sempre se posicionaram abertamente contra o programa.”
O futuro do médico cubano e de Candiota no Programa Mais Médicos está na berlinda. A decisão final do caso deve sair nos próximos dias.
Perguntamos ao prefeito Luiz Carlos Folador o que significa para Candiota perder o doutor Maikel Ramirez Valle e o eventual descredenciamento do município do Mais Médicos.
“Não contamos com essa possibilidade. Confiamos na sensibilidade do Ministério da Saúde, pois foi, de fato, um caso excepcional, isolado, e já comprovamos isso. Não temos nenhum médico morando em Candiota, a exceção é o profissional do Mais Médicos. A quantidade de médicos em nossa cidade não é suficiente. Nosso Pronto-Atendimento recebe pessoas de outros municípios que veem trabalhar aqui. Também temos núcleos de famílias assentadas e comunidades quilombolas”, analisa Folador.  “O descredenciamento seria uma perda irreparável, seria o maior dos prejuízos.”
Paulo Pimenta também acredita numa decisão favorável: “Não vamos permitir que posições corporativistas busquem contaminar e confundir a opinião pública sobre o Mais Médicos, que, além de requisitar profissionais estrangeiros, também está fazendo investimentos em infraestrutura e ampliando os cursos de graduação em medicina no país”.
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